Para se ter sucesso no tratamento da criança alérgica ou com sintomas que parecem alergia é importante que os pais entendam o que acontece nas vias aéreas dessas crianças. O que a alergia provoca no sistema respiratório é uma irritação. É importante salientar que se trata de uma irritação e não de uma infecção. No jargão médico, essa irritação é chamada de processo inflamatório. E inflamação é diferente de infecção! Com frequência, crianças alérgicas tomam antibiótico desnecessariamente, quando esta irritação é confundida com infecção.
Quais são os argumentos utilizados por pediatras para justificar a prescrição de antibiótico?
Quais são os argumentos utilizados por pediatras para justificar a prescrição de antibiótico? Um argumento muito utilizado é a presença de febre. Mas está errado! Febre não indica necessariamente que é preciso dar antibiótico. Nos primeiros anos de vida, as crianças apresentam infecções virais com certa frequência. Nove em cada dez casos de febre em crianças abaixo de cinco anos estão relacionados com infecção viral - e vírus não se trata com antibiótico. O argumento de que a febre está muito alta, acima de 39ºC, também não justifica a prescrição de antibióticos. Podemos encontrar crianças com 39, 40 ºC de febre causada por um simples resfriado e não é raro termos crianças com 37,5 ºC que estão com meningite. Portanto, a intensidade da febre não indica necessariamente a gravidade do problema. Febre indica apenas que o organismo está reagindo a alguma coisa, o que pode ser um bom sinal.
Muito mais preocupante é aquela criança que está prostrada, abatida, sem se alimentar e fria, com hipotermia. Na maioria das vezes só devemos nos preocupar com a febre se ela persistir por mais de cinco a sete dias. Em uma infecção viral, a febre não deve ir além de uma semana. No entanto, lembramos que preocupar não necessariamente indica prescrever antibiótico. Preocupar indica investigar para avaliar se a criança realmente precisa desse tipo de medicamento. Crianças raramente têm febre que persiste por mais de sete dias. Quantas vezes seu filho teve febre por mais de uma semana? Muitas vezes se prescreve antibiótico, a febre melhora, e todos vão dormir tranquilos com a impressão de que o remédio está fazendo efeito. Na realidade, na maioria das vezes, estava na hora da febre ceder, independente do uso de antibiótico.
Outro argumento muito usado para essas prescrições é a presença de catarro. Quem nunca ouviu que catarro amarelo-esverdeado é sinal de infecção e que é preciso tomar antibiótico? Mais uma vez esse conceito é errado e antigo. Hoje sabemos que um simples resfriado pode apresentar catarro amarelo-esverdeado e não necessariamente indica a necessidade de prescrição de antibiótico. Nos Estados Unidos, a Academia Americana de Pediatria recomenda aos pediatras que só se preocupem com o catarro se ele persistir por mais de 10 a 15 dias, sem tendência de melhora. Portanto, não se justifica a prescrição de antibiótico na presença de secreção amarelo-esverdeada nos primeiros 10 dias. O antibiótico e a lavagem nasal com soro fisiológico levam ao mesmo resultado.
Cautela no uso dos antibióticos
Nos primeiros cinco anos de vida, a criança tem, em média, 10 viroses por ano. Não se trata de fraqueza do organismo, nem de baixa resistência e muito menos falta de cuidado. Os primeiros anos de vida são um período em que crianças apresentam infecções virais que desencadeiam tosse, chieira e sintomas nasais recorrentes mantendo uma irritação das vias aéreas, estas infecções promovem a produção de anticorpos. Após o 5º ano de vida, a criança está com o sistema imunológico mais amadurecido e resistente, fazendo com que as infecções virais diminuam progressivamente.
Outros fatores presentes no ambiente, como poluição, mudança de tempo, cheiro forte, fumaça de cigarro e inseticida também podem piorar ou manter a irritação das vias aéreas. Salientamos que não existe alergia a cheiro, nem a mudança de tempo, ou poluição, mas esses são fatores que quando atuam numa via aérea já irritada desencadeiam ou mantêm os sintomas.
Em crianças, o fator irritante mais comum é a infecção viral. Por isto, para se ter sucesso no tratamento da criança alérgica é importante diminuir a irritação. O antibiótico não diminui esta irritação! Portanto devemos ser cautelosos e criteriosos na utilização de antibiótico em crianças. Estes medicamentos possuem inúmeros efeitos colaterais e com frequência deixam as bactérias mais resistentes e difíceis de serem vencidas.